Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Rio
de Janeiro - O Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro
responsabilizou a TV Bandeirantes pela morte do repórter cinematográfico
Gelson Domingos, de 46 anos, ocorrida hoje (06). Ele foi atingido no
peito por um tiro de fuzil durante a cobertura de uma operação da
Polícia Militar contra o tráfico de drogas na favela de Antares, em
Santa Cruz, na zona oeste da cidade.
Gelson Domingos, que também
trabalhava na TV Brasil, usava um colete à prova de balas, mas o
projétil ultrapassou a proteção. Para a presidenta do sindicato, Suzana
Blass, a morte do cinegrafista foi uma tragédia anunciada, porque os
coletes fornecidos pelas empresas de comunicação não resistem a tiros de
fuzil. Ela disse que o sindicato pode recorrer à Justiça para obrigar a
Bandeirantes a amparar a família de Domingos.
'Isso [o colete] é
uma maquiagem. Os coletes não oferecem segurança para o profissional
porque não protegem contra os tiros de fuzil, a arma mais usada pelos
bandidos e também pela polícia no Rio. E as emissoras só dão o colete
porque a convenção coletiva de trabalho estabeleceu que o equipamento é
obrigatório em coberturas de risco.'
Suzana Blass disse que o
sindicato propôs às empresas de comunicação a criação de uma comissão de
segurança para acompanhar a cobertura jornalística em situações de
risco, mas que a proposta não foi aceita. 'Sabemos que as condições
oferecidas são precárias, mas as empresas alegam que a comissão seria
uma ingerência no trabalho delas e que iriam sugerir um outro formato,
mas até agora nada ofereceram.'
'Também já pedimos que as empresas
de comunicação façam um seguro diferenciado para as coberturas de
risco, mas elas responderam que já protegem seus funcionários e
classificaram a proposta do sindicato como uma interferência em seu
trabalho', acrescentou Blass.
Outro problema, segundo ela, é que
muitas empresas contratam operadores de câmera externa para exercer a
função de repórter cinematográfico, porque os salários são menores, o
que acarreta em prejuízos no resultado do trabalho.
Para Suzana
Blass, além da falta de condições de trabalho, o profissional de
comunicação convive diariamente com uma questão cultural, pois está
sempre em busca da melhor imagem. 'Com isso, ele acaba aceitando o
trabalho sem pensar no risco que vai correr, sem pensar na necessidade
de se prevenir contra os acidentes e também para não ficar com fama de
'marrento' caso se recuse a cumprir a pauta.'
Pela TV Brasil, o
cinegrafista Gelson Domingos e o repórter Paulo Garritano ganharam, no
ano passado, menção honrosa na 32ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de
Anistia e Direitos Humanos, na categoria TV Documentário, com a série
sobre pistolagem no Nordeste, exibida no programa Caminhos da
Reportagem.
Edição: Andréa Quintiere
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